Em fevereiro de 2015 foi feito um novo consenso nos E.U.A sobre hiponatremia (sódio baixo no organismo) associada ao exercício (HAE). Esta patologia pode ocorrer durante a atividade física ou por até 24 horas após, e é uma causa importante de alterações metabólicas e cerebrais.

Desde 1981 já ocorreram 18 mortes pela doença. Apresenta ocorrência mais frequente em esportes de longa duração (ultramaratona, Ironman no triathlon), porém alguns casos tem sido relatados em outras atividades, como futebol americano e remo.

Por muito tempo recomendava-se beber água antes da sensação de sede em atividades que levavam a uma perda acentuada de suor para evitar desidratação, porém essa prática facilita a hiperidratação e a HAE dilucional.

Os sintomas principais da HAE são:

– dor de cabeça

– vômito

– alteração do estado mental (confusão, convulsão), devido ao edema cerebral que é chamado de encefalopatia hiponatrêmica associada ao exercício (EHAE)

O diagnóstico é feito com a dosagem de sódio no sangue, tendo como valor normal 135 mmol/L. Valores abaixo de 125 mmol/L ou que diminuem rapidamente ocasionam os sinais e sintomas citados.

O fator de risco mais importante é o excesso de líquido (água, bebidas esportivas ou outros líquidos hipotônicos) que dilui o sódio no organismo. Agora essa alteração também é encontrada em esportes que não são extenuantes, como futebol americano, com 3 mortes nos últimos 4 anos em estudantes do ensino médio nos E.U.A. Esses atletas foram orientados a tomar bastante líquido para evitar cãibra, porém sabe-se que a cãibra ocorrida durante o exercício é causada geralmente por fadiga muscular e a hiponatremia pode até piorar o quadro.

Classificação

– HAE assintomática: achado de exame, geralmente encontrado durante estudos ou exames de rotina em atletas. Não apresentam sinais e sintomas ou podem ter queixas leves, transitórias e geralmente não procuram atendimento médico.

– HAE moderada: sinais e sintomas inespecíficos, sem sinais de encefalopatia. Apresentam sinais vitais (pulso, pressão arterial) normais e o mal estar não melhora ao deitar com as pernas elevadas (pensando em uma queda de pressão). Nesses casos tem que ser testado o nível de sódio pois esses pacientes podem evoluir rapidamente para a forma grave.

– HAE grave: sinais e sintomas de encefalopatia devido a edema cerebral. O atleta corre risco de morte e tem que ser imediatamente avaliado e dosado o sódio no sangue.

Tratamento

A dosagem de sódio sérico no local é a melhor maneira de diagnosticar HAE e é recomendável que se tenha o material em qualquer competição de longa duração.

O tratamento deve ser feito baseado nas alterações neurológicas e não somente nos níveis de sódio, pois mesmo com níveis não tão baixos o atleta pode apresentar encefalopatia se a queda for rápida.

– HAE assintomática: difícil diagnóstico, porém deve ser tratada com soluções salinas HIPERTÔNICAS para prevenir que se torne sintomática e devem ser orientados a procurar atendimento médico se em até 24 horas após a competição apresentarem qualquer sinal de encefalopatia.

– HAE moderada e grave: deve ser tratado com soluções salinas HIPERTÔNICAS intravenosas, sendo que no caso grave pode ser administrado a solução mesmo antes de verificar o nível do sódio. Na suspeita deve-se evitar qualquer tipo de solução hipotônica, ringer lactato, ou salina isotônica.

Prevenção

Equipe e atleta devem ter cuidado com a reposição hídrica e eletrolítica durante e após o exercício. O excesso de ingestão líquida, principalmente se não estiver com sede, não é sempre solução para fadiga, desmaio, cãibra e exaustão térmica. Pode ocasionar um balanço positivo de água, diminuindo a concentração de sódio que é a alteração mais comum no mecanismo fisiopatológico da hiponatremia associada ao exercício sintomática e fatal.

A medida do peso antes e após o exercício pode nos dar uma idéia da hidratação do atleta, porém essa medida não é fidedigna nas competições de longa duração. Contudo, um resultado ao fim da prova acima do inicial indica uma ingestão hidrica acentuada durante a competição.

Portanto, a sensação de sede é o melhor método para o atleta saber a hora para se reidratar durante uma prova. Ela evita a desidratação excessiva e reduz o risco de desenvolver HAE.

Baseado no artigo: “Statement of the Third International Exercise-Associated Hyponatremia Consensus Development Conference, Carlsbad, California, 2015” – Clin J Sport Med 2015;25:303–320

O risco da hiperidratação no esporte