​A tendência mundial é ter uma vida mais ativa e saudável, e a prática de atividades físicas tem aumentado cada vez mais, principalmente a corrida de rua. Com isso o numero de lesões tem aumentado consideravelmente, sendo que a maioria dos atletas poderiam evitar essas lesões se fossem melhor orientados.

Abaixo estão as principais patologias que acometem o corredor.

  • Tendinite do tendão tibial posterior:

Dor na face medial do pé e tornozelo, que pode irradiar para a panturrilha. Mais comum em mulheres e em atletas com o pé plano (chato). Geralmente causada pelo esforço. O tendão é utilizado para flexão plantar (ficar na ponta dos pés) e inversão do pé. Para evitar é importante manter a musculatura da panturrilha bem alongada e a fortalecida.

O tratamento preconizado é conservador com fisioterapia com analgesia, alongamento e fortalecimento do tendão. Compressas de gelo por 15 minutos a cada 2 horas por 3 dias, e após, manter compressa de água quente/calor local por 15 minutos antes de alongar.

  • Fasceíte plantar:

Doença que acomete atletas com pé cavo (curvo). A fáscia plantar é um tecido denso na sola do pé que ajuda a manter o arco plantar (curvatura da parte interna do pé). Devido a uma sobrecarga pela atividade física associado a falta de alongamento, a inserção da fáscia no calcâneo inflama, causando a fasceíte. Com o tempo e pela tração, forma-se uma proeminência óssea, chamada popularmente por “esporão”.

A dor é mais frequente na região plantar, na parte interna do calcâneo e na face interna do pé (arco plantar). Geralmente ocorre dor intensa ao pisar pela manhã.

O diagnóstico é clínico mas pode ser confirmado por ultrassom. O tratamento é feito com alongamento e fortalecimento da musculatura da panturrilha e do pé, medicações na fase aguda de dor mais intensa, e pode-se usar uma par de calcanheiras no calçado para elevar o calcanhar.

O alongamento da musculatura da panturrilha é feito com o joelho estendido, tracionando com uma corda, elástico ou uma toalha a ponta do pé, até sentir tensão e uma dor leve posterior na panturrilha e na sola do pé. Segurar por 30 segundos. Fazer 3 vezes com cada perna, duas vezes ao dia, e após melhora da dor alongar diariamente. Pela manhã pode alongar antes de sair da cama. Compressa com água quente na sola do pé antes do alongamento ajuda a relaxar a musculatura e melhorar a dor.

  • Cãibra:

É uma contração muscular e involuntária que ocorre durante ou após a atividade esportiva, quando a musculatura está relaxada. Causada geralmente por fadiga ou desidratação.

Outras causas: alterações hidrelétroliticas (cálcio e magnésio), fratura ou estresse ósseo, falta de sódio, insuficiência venosa crônica, hipovitaminose B, drogas (diuréticos e antihipertensivos) e doenças neurológicas.

A prevenção é feita com alongamento e fortalecimento diário e uma alimentação balanceada. Não realizar atividade física vigorosa antes de equilibrar e fortalecer a musculatura.

  • Síndrome fêmoro-patelar/Condromalácia/tendinite patelar:

São doenças relacionadas, geralmente ocasionadas por uma falta de alongamento e fortalecimento da musculatura do quadril e da coxa. Com isso ocorre uma sobrecarga da articulação fêmoro-patelar (entre o fêmur e a patela) pela lateralização da patela, ocasionando estalidos no joelho e as vezes tendinite patelar. Condromalácia é um diagnóstico artroscópico e nada mais é do que o amolecimento da cartilagem por falta de contato da patela com o fêmur.

Em inglês a Sd. fêmoro-patelar é conhecida como “runner’s knee”, portanto a corrida é a atividade física que mais força e causa dor nessa articulação.

O tratamento é feito inicialmente com fisioterapia com analgesia, e posteriormente alongamento e fortalecimento da musculatura da coxa e quadril. Deve-se evitar subir e descer escadas, rampa, agachar e correr durante o tratamento. A investigação da dor com radiografia simples é necessária para afastar como causa alguma alteração óssea e nos casos refratários a complementação com ressonância magnética é realizada para avaliar a necessidade de tratamento cirúrgico, porém dificilmente é necessário operar.

Geralmente o tratamento leva de 2 a 3 meses, tempo necessário para equilibrar a musculatura. Quando a dor melhorar, o exame de avaliação isocinética (CIBEX) dos joelhos pode ser feito para avaliar o equilíbrio e força muscular.

A tendinite patelar pode estar associada e se não tratada pode levar a lesão completa do tendão, com incapacidade de estender o joelho, necessitando de tratamento cirúrgico.

Importante sempre usar um tênis adequado para corrida e avaliar a postura durante os treinos, para não sobrecarregar os joelhos.

  • Dor no quadril:

A sobrecarga de treinos pode levar a tendinite do glúteo médio, que ocasiona uma dor na parte superior e lateral do glúteo. Esse músculo é o principal estabilizador da bacia e muito requisitado durante a corrida.

Para evitar é necessário seguir uma planilha de treino para evoluir no tempo adequado, e respeitar os períodos de descanso, além de alongar e fortalecer a musculatura do quadril.

Outra doença comumente encontrada é o impacto fêmoro-acetabular, que ocorre devido a traumas repetitivos do osso da coxa com o da bacia. Pode ser causado por uma deformidade no colo do fêmur (coxa) chamado “CAME” ou por um aumento da cobertura acetabular (bacia), “PINCER”, ou ambos (misto, o mais comum). Causa uma dor intensa em “C” na lateral do quadril e piora com a flexão exagerada e alguns movimentos específicos dessa articulação. Esse quadro leva a lesão de uma estrutura fibrosa chamada labrum acetabular, que ajuda a estabilizar o quadril. Geralmente o tratamento é cirúrgico, feito por artroscopia, pois se trata de um problema mecânico e estrutural, sendo necessária a correção dessas deformidades ósseas e reparo do labrum quando houver. Acredita-se que o impacto no quadril é uma das causas de artrose (desgaste da cartilagem) nessa articulação.

Feito o diagnóstico o atleta deve reduzir a carga de treinos, iniciar fisioterapia para equilibrar e alongar a musculatura do quadril, e deve evitar fazer movimentos de flexão, adução (“cruzar” o membro inferior) e rotação interna do quadril.

  • Síndrome da tensão tibial medial / Periostite tibial:

Também conhecido como “canelite”, é uma dor localizada na parte póstero-medial da perna, e que geralmente acomete atletas iniciantes de corrida ou que aumentaram subitamente a carga de treino, ou durante competições de longa distância sem o treinamento adequado.

É uma inflamação que se dá no periósteo (capa que recobre o osso) devido à sobrecarga.

Causada pela falta de alongamento e fortalecimento da musculatura da panturrilha e da coxa associada a prática da corrida de forma repetitiva, em terreno duro e sem o repouso adequado. Acredita-se que ocorre por um uso excessivo dos músculos flexores do tornozelo.

Tratamento é feito inicialmente com uma diminuição na carga de treino / competição e fisioterapia, com analgesia, alongamento e fortalecimento. Quando equilibrada a musculatura e com a melhora dos sintomas, o atleta deve manter os exercícios e principalmente os alongamentos em uma academia.

O ideal para prevenir é sempre aquecer caminhando por pelo menos 10 minutos, alongar bem a musculatura dos membros inferiores antes de iniciar a corrida e ter cuidado com a sobrecarga nos treinos (“overtraining”). Importante utilizar tênis adequado para corrida por causa do impacto, e nos casos de dor crônica é necessário afastar uma fratura por estresse da tíbia ou síndrome compartimental relacionado a atividade física.

Portanto, a corrida é um hábito saudável, que vem ganhando cada vez mais espaço entre os esportistas. Porém é necessário ter um tênis adequado e uma musculatura bem alongada e fortalecida para evitar lesões. Se você nunca praticou nenhuma atividade física ou se está muito acima do peso, o ideal é iniciar um trabalho aeróbico de baixo impacto como caminhada ou bicicleta, e musculação. Após alguns meses, com a melhora da musculatura, você pode iniciar a corrida.

Sempre lembrando que na musculação e mesmo na corrida é importante ter um acompanhamento de um profissional formado em educação física e SEMPRE deve ser realizado uma avaliação clínica pré-participação (APP) para atividades físico-esportivas por um médico também capacitado (médico do esporte, cardiologista ou clínico geral).

Boa corrida!

Conheça as principais lesões na corrida e como evitá-las

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *